TEXTOS CULTURAIS


Ei, E-companheiros,

No próximo Domingo (18 de abril), no horário de 15 às 17 horas, se dará o lançamento do meu novo livro ‘AS RAPARIGAS DA RUA DE BAIXO (Memórias de Infância)”, pela iEditora, no estande da Livraria Laselva (Av. S/T), no recinto da 18a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, contando com as presenças, entre outras, do Prefeito de Uberaba, Sr. Marcos Montes, e da Secretária de Educação do Município, Sra. Solange Mello Nogueira. A partir de Sexta-feira próxima, entretanto, o livro ficará disponível, pela internet, no endereço www.ieditora.com.br a um preço mais acessível do que o das livrarias. Na Segunda-feira, dia 19, a Prefeitura Municipal de Uberaba promoverá, em colaboração com a Câmara Brasileira do Livro, às 16 horas, no recinto da Bienal, evento de incentivo à leitura, para o qual também convido os E-companheiros, que poderão se inscrever pelo sítio www.uberaba.mg.gov.br

No livro, narro minha infância transcorrida em duas cidades do Triângulo Mineiro - Campo Florido e Uberaba - ambas marcadas pela cultura e tradições portuguesas. Talvez a citação de uma frase do escritor norte-americano, John Steinbeck (“À Leste do Eden”), feita no intróito, possa antecipar ao leitor a essência da narrativa: “Crescer é um processo difícil e doloroso”. O livro, com apresentação do poeta, contista, ensaísta e crítico literário, Anderson Braga Horta e capa de Vivian Valli, tem início com a chegada da minha família, a Campo Florido, após a instalação do município, ocorrida a 1o de janeiro de 1939, para que meu pai, natural do lugar, assuma simples função burocrática na Coletoria Estadual, depois haver sido aprovado em concurso, realizado em Belo Horizonte. Passada a euforia da chegada, a criança, que eu era, começa a tomar contato com a vida primitiva do lugar, onde o índice de mortalidade infantil, se houvesse sido apurado, seria elevadíssimo, dada a falta de acesso a vacinas contra diversas doenças como a paralisia infantil, o crupe, o tifo, o sarampo, a varicela, a catapora, a tuberculose, etc. O menino toma ciência então de outras tristes manifestações do Brasil rural em que vive sob o regime do Estado Novo, de Getúlio Vargas e assombrado pelas notícias da II Guerra Mundial, que tem por palco a Europa. Toma conhecimento, por outro lado, de que a tumultuada história da família paterna, marcada por fatos polêmicos, envolvendo principalmente a figura de sua bisavó, nascida na senzala, se confunde com a própria história da fundação da cidade pelo Barão de Campo Formoso no decorrer do ano de 1875. Compreende também que sua vida tem continuidade em outra cidade – Uberaba – onde nasceu e residem os familiares de sua mãe, com padrão de vida mais elevado, tendo acesso à energia elétrica, à geladeira, ao rádio, ao telefone, ao cinema, etc. O contraste da vida entre as duas cidades então se impõe ao discernimento da criança, impedida, entretanto, de se esclarecer com adultos sobre determinados assuntos, como, por exemplo, em Campo Florido, o da movimentação das raparigas – chegadas e saídas das pensionistas dos dois prostíbulos da cidade - tema principal das conversas de sua mãe com amigas, temerosas de que alguma delas pudesse vir desestabilizar a mesmice de suas vidas domésticas. Motivados pela curiosidade e pelo precoce impulso natural do sexo, ele e um amigo decidem fazer incursão pelas águas do riacho, que corta a cidade, até chegar aos fundos de um dos bordéis a fim de presenciar, escondidos no meio da vegetação de uma das margens, o banho das prostitutas numa ensolarada manhã de verão. Em Uberaba, o menino descobre, pelo cinema, o gosto pela música erudita – a de Tchaikovsky - mas sofre sérias reprimendas dos parentes de sua mãe, temerosos de que venha, no futuro, se tornar músico, como o avô, compositor e maestro da Banda União Uberabense, fundada em 1852, que ao morrer deixou a viúva, de vinte anos de idade, na miséria, com quatro filhos para criar. A narrativa avança na fase do pós-guerra e da transição democrática, depois da queda de Getúlio Vargas, mostrando os críticos reflexos desses acontecimentos sobre a vida familiar. Enfim, com esse livro, espero estar cumprindo minha obrigação para com a história, que é - bem ou mal - o de registrá-la. REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

A jornalista, tradutora, promotora cultural e critica cinematográfica, Theresa Catharina de Góes Campos (www.arteculturanews.com),  que colaborou na revisão dos originais de “As Raparigas da Rua de Baixo (Memórias de Infância)”, assim se manifesta sobre o mesmo:

“Reynaldo, Seu livro é realmente assombroso! Você é um contador de história que parece tudo ver e tudo sentir, registrando ambientes, circunstâncias e personagens com acuidade impressionante, indo além dos acontecimentos para compreender emoções, atitudes e preconceitos. Terminei a leitura do livro muito comovida.”

THERESA CATHARINA DE GÓES CAMPOS


Eis a apresentação de Anderson Braga Horta:

SABOR DE VIDA

Conhecemos de longa data o jornalista, advogado e escritor Reynaldo Domingos Ferreira. Sabemo-lo, de ciência própria, autor de mérito. Seu trabalho mais recente, o Dicionário da Dívida Externa Brasileira, é de natureza técnica, ligado às funções de Assessor de Imprensa que exerceu, na década de 80, no Banco Central do Brasil (lançado em 2002 com o selo desta Editora, está em curso o seu relançamento, revisto e ampliado). Já a publicação de sua obra propriamente literária é bastante anterior, remontando a algo mais de vinte anos.

Poeta, Reynaldo se fez conhecido por uma longa composição, Elegia ao Chapéu, ganhadora de concurso de âmbito nacional e lançada em livro de 1983. Talvez possamos afirmar, porém, que a parte mais importante de sua criação literária tem cabido ao dramaturgo. Naquele mesmo ano, pôs em letra de forma e levou ao palco a peça Dona Bárbara, reeditada singularmente em 1986 e, com outras duas, em 1998, sob o título Três Mulheres no Palco.

Não é sem propósito a rememoração da experiência literária do Autor. Deve-lhe ele, em parte, o modelar com mestria as imagens dramáticas e os momentos poéticos destas memórias de infância. Pois ao escritor não basta lembrar: é mister, no papel, fazê-lo seletivamente, privilegiando os lugares, as personagens, os episódios de maior importância ou vigor, dando a estes um ordenamento significativo, e esquecendo o que não tem função no contexto.

O bom memorialista deve dominar a técnica do romance. Reynaldo D. Ferreira tem plena segurança na condução do fio narrativo, sustentando o interesse do leitor, com a ênfase, conforme o caso, nos meandros psicológicos ou na ação, revelando-se senhor do sentido do drama, quando não do trágico, e sábio no emprego do condimento poético, onde e quando cabível e necessários, sem desbordamentos inúteis ou piegas.

A mim, que dividi os primeiros doze anos de vida entre a Zona da Mata mineira e as terras de Vila Boa e Goiânia – de passagem, na longa viagem que as separava, visitando o Triângulo e, nele, Uberaba – se afiguram familiares tipos, modos, paisagens, coisas destas saborosas memórias, qual se tratassem da minha própria infância. Reynaldo Domingos Ferreira nos põe ante os olhos de um Brasil antigo – que ainda não mudou de todo - , em que a vida era mais difícil, meio selvagem nalguns aspectos violentos ( se bem que de uma violência não comparável às dos meios urbanos atuais), longe dos confortos e das expectativas modernas, mas de qualidade superior no concernente ao contacto mais demorado e mais íntimo com a terra, e ao relacionamento mais intenso entre as pessoas.

É este, pois, a par do valor testemunhal e literário, um livro com cheiro e gosto de vida, que se lê com prazer.

ANDERSON BRAGA HORTA,
poeta, contista, ensaísta e crítico literário.
 

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