Dificuldades de brasileiros em Portugal (AFA)
Prezados amigos,
Sei que o meu desabafo foge ao espírito de qualquer grupo, mas
peço-lhes paciência, solidariedade e, sobretudo, a necessidade de
praticar alguma ação que se expanda e abra os olhos das autoridades,
que, normalmente, por estarem acima do bem e do mal, pouco se lixam
para os problemas que afetam o povo.
Esta é uma campanha que estou lançando por amor ao respeito devido ao ser
humano, seja ele de que raça e credo for.
Esta é uma campanha que estou lançando contra o preconceito racial
de Portugal contra os brasileiros.
Esta é uma campanha em que digo: BRASILEIROS, NÃO VISITEM PORTUGAL
SE NÃO QUISEREM SER HUMILHADOS, DESRESPEITADOS, AGREDIDOS.
Esta campanha é assinada embaixo por meu marido, português, cuja
família vive em Portugal e é reconhecidamente uma família de
prestígio por lá.
Muito bem: vamos à história.
Sou filha de italianos e minha família inteira possui passaporte
italiano, que me foi negado por ter-me casado com um cidadão
português, em 1963.
Assim sendo, minha filha teve de tirar um passaporte português,
direito que lhe é concedido por lei.
Minha filha é médica, pessoa culta, educada, extremamente capaz em
sua profissão e que tem seu lugar guardado por onde passou como
profissional no Rio de Janeiro.
Acontece que há cerca de 20 anos atrás, ela conheceu um inglês e
este homem conseguiu, após todos esses anos de insistência, levá-la
com ele para Londres, onde vive. Há 4 anos, minha filha vive lá.
Ocorre que, nesta semana que se passou, eles foram a Portugal, pois
seu marido ainda não conhecia o Algarve.
Pois bem, desde o momento em que pisaram no aeroporto de Faro,
começaram as humilhações e desacatos para minha filha, praticados
por funcionários da imigração.
Na chegada, o português olhando o passaporte de minha filha, mal o
tocou, pois é um passaporte português e, todo sorridente, deu-lhe,
após devolver-lhe o passaporte, um caloroso sorriso e desejou-lhe um
bom dia. O mal estar todo começou quando, minha filha respondeu-lhe
com outro "bom dia". Ele, imediatamente, ao ouvir-lhe o sotaque
brasileiro, fê-la voltar e arrancou-lhe (ARRANCOU-LHE!) o passaporte
das mãos e, sem nada dizer, reteve-a por mais de 15 minutos, olhando
e revirando o dito passaporte em todas as folhas, contra a luz,
voltando à fotografia, examinando-a e encarando a minha filha, para
ver se era mesmo ela e, ao fim, carimbou, quase sobre a sua foto, um
código, que ela quis saber o que significava, mas que ele se negou a
esclarecer. Seu marido, com passaporte inglês, não teve nenhum
problema nem carimbo algum. No entanto, todos sabem muito bem o que
os ingleses acham dos portugueses...
Pois hoje, retornando para casa, em Londres, foi novamente humilhada
e desrespeitada no mesmo aeroporto de Faro, por outro abusado
funcionário, que a fez chorar.
Ele começou a fazer-lhe perguntas, que, suponho eu, não teria
direito algum de fazê-las.
A primeira foi: onde e como havia ela conseguido obter o passaporte
português. Ao responder que seu pai é português... o que
respondeu o dito funcionário?
"- Ah... entendo... seu pai foi dar uma voltinha no Brasil e assim
deixou-lhe esta herança de poder usufruir do nosso passaporte!..."
Ao que ela respondeu que seu pai vive no Brasil desde a
adolescência, que aqui estudou, se formou, constituiu família. Ele
quis saber então, o que era o sobrenome Ziliotto, que não era
português. E ela respondeu que sua mãe é italiana. Ao que ele
debochou: ah... seu pai foi daqui pra pegar uma italiana no
Brasil... e deu uma risadinha de escárnio. Depois, quis saber por
que motivo ela estava indo pra Inglaterra e não de volta ao Brasil e
o que ela pretendia fazer na Inglaterra - como se ele fosse um
funcionário da imigração da raínha inglesa... e quando ela lhe disse
que lá vivia há 4 anos, ele acintosamente lhe disse que o seu lugar
não era na Europa e sim de volta ao Brasil, que é uma terra tão
boa... e de onde ela não deveria ter saído.
Sei de inúmeros casos deste racismo, deste preconceito nojento dos
portugueses contra os brasileiros.
Nada tenho contra portugueses, gosto muito da família de meu marido,
gosto do país, mas esta mentalidade tem de ser mudada já! Esse
desrespeito acintoso, despropositado, essa terrível implicância com
os brasileiros. O Brasil era muito bom quando todos vinham pra
cá, na época da guerra e os fazia enriquecer, a custa de trabalho,
sim, mas que lhes permitia levar o rico dinheirinho para suas
terras, seus familiares passando necessidades e tudo o mais que bem
sabemos.
O brasileiro naqueles tempos lá era recebido até subservientemente,
com incríveis bajulações e respeito. Depois que Portugal foi
incluído e aceito pela comunidade européia e teve uma acentuada
melhora de vida, crescimento, começou a menosprezar o povo
brasileiro.
Durante a faculdade mesmo, minha filha teve uma colega retida ao
chegar em Lisboa com os pais - ambos portugueses! - , por ser
brasileira. Há uns 10 dias, um rapaz que ia fazer um curso na
Espanha e teve a má sorte de ter de fazer uma parada para troca de
aviões em Lisboa, foi retido - apesar de não estar indo para
Portugal, onde ficou, preso no aeroporto por 2 dias! - impedido de
continuar sua viagem à Espanha e sendo devolvido ao Brasil.
São abusos e mais abusos em nome de quê? Se é assim, vamos
também começar a hostilizar os portugueses, impedi-los de visitar o
país ou seus familiares. Se somos personas non-gratas a eles, temos
de lhes dar o troco na mesma medida.
E, mais que tudo: se é para maltratar os descendentes seus que
possuem passaporte português, obtido segundo a Lei como um direito,
o melhor é pararem com esta hipocrisia e negar-lhes isso.
Ah... em tempo: o carimbo no rosto do passaporte de minha filha é
indicativo de ser ela SUL-AMERICANA. Ou seja: leprosa ou pior para
os portugueses! Ou também outra conotação muito ouvida por lá:
brasileira é vagabunda. Para eles essas palavras são sinônimas. (É
óbvio que não será assim para todos, mas para a grande maioria).
Meu marido está escrevendo uma carta de protesto à Embaixada
portuguesa e eu vou escrever aos nossos embaixadores no Brasil e em
Portugal, pois que nada fazem, ficam de braços cruzados ao ver tudo
isso se repetir diariamente em seus postos de acesso ao país.
Peço-lhes por favor, que reencaminhem esta carta aos grupos
todos de que participam, aos seus amigos, conhecidos... enfim, a
todos! Se não lutarmos por nossos direitos, sejam eles os mais
comezinhos, ninguém o fará por nós.
Muito obrigada,
Mary Ziliotto
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