Polêmica ameaça distorcer filme de Mel Gibson - Victoria Lindrea

                               

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01/03/2004 - 10:12

Polêmica ameaça distorcer filme poderoso e desafiador de Mel Gibson sobre a Paixão de Cristo

Jim Caviezel (Jesus) deslocou um ombro durante as filmagens na Itália

Foto: Divulgação

Victoria Lindrea


As acusações de anti-semitismo contra o filme a Paixão de Cristo de Mel Gibson ameaçam distorcer um poderoso e desafiador trabalho cinematográfico.


SÃO PAULO - A descrição de Gibson das últimas 12 horas da vida de Jesus Cristo é, como o diretor tem defendido, firmemente baseada nos textos do Novo testamento.

Reconheça-se que a história recebeu alguns retoques cinemáticos – uma descrição totalmente realista da crucificação nas línguas originais latim e aramaico seria impossível de ver, para não dizer inviável comercialmente.

O filme abre no jardim de Gethsemane onde Jesus de Nazaré luta para aceitar que se aproxima o seu derradeiro sacrifício, a morte. A batalha entre o bem e o mal é posta a nu.

Nas sombras está Satanás, um demônio andrógino, de olhos ocos, com serpentes rastejando a seus pés.

Durante o filme vamos reencontrá-lo, andando de modo furtivo entre as multidões ululantes. Isto não nos deixa nenhuma dúvida relativamente às chamas do inferno e à danação que enfrentam os não-crentes.

O destino de Judas Iscariotes é uma das muitas áreas em que Gibson acrescenta cor à história das horas finais de Cristo, embora não necessariamente verdade.

A entrega das 30 moedas de prata é puro teatro – mas nada comparado com as demoníacas crianças de rua que mais tarde perseguem o traidor até à sua morte entre um mar de moscas e vermes.

No entanto, se não fossem histórias secundárias dramáticas, como a de Judas, e as poucas manifestações de humor, a Paixão poderia revelar-se demasiado cruel na sua brutalidade.

A partir do momento em que Jesus é capturado pelos guardas do templo, somos submergidos num mundo de violência sangrenta. Violência que é iniciada pelos altos sacerdotes judeus.

Estes líderes judeus são condenados no filme de Gibson. Não nos são dadas pistas para a sua motivação, apenas o seu desejo sanguinário.

Mas a ingnoância dos fariseus é temperada por outros destacados personagens judeus espalhados pelo filme de Gibson, que mostram apoio e simpatia por Jesus nas suas horas derradeiras.

E não esqueçamos que o próprio Jesus – o homem que pregava amor e misericórdia perante a sua própria morte, era ele mesmo judeu.

Em outras partes, a caracterização também é escassa. O rei Herodes e os seus seguidores são colocados em campo, em jeito de pantomima, e os soldados romanos são retratados como brutamontes tolos e depravados.

De todos os que julgam Jesus, apenas Pôncio Pilatos e sua mulher Cláudia mostram compaixão ou motivação.

Quanto à violência em si, é apropriadamente dolorosa. Gibson oferece momentos de alívio com flashbacks da vida inicial de Jesus.

Os momentos são escolhidos, com talento,para mostrar a sua capacidade de amar, mas no entanto também demonstra quão arrogante – quão perigosa – a sua auto-confiança deve ter parecido.

Acima de tudo, o poder do filme advém da descrição visceral do sofrimento de Cristo. Gibson usou a tecnologia da cinematografia moderna para fazer um filme que é ao mesmo tempo uma obra de arte e um estudo da humanidade.


 

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