O CALCANHAR-DE-AQUILES DAS EMPRESAS
Faustino Vicente*
O ano velho partiu. “E agora,José? A festa acabou,a luz apagou,o
povo sumiu,a noite esfriou,e agora,José? E agora,Você?” Navegando
suavemente nos versos do nosso poeta, Carlos Drummond de Andrade,
deparamos com o momento de perguntar – e agora??? O que cada um de
nós vai fazer com o presentão que ganhou? – 8.760 horas na poupança
virtual de 2005. É a hora da verdade.
Ajudar o próximo com práticas continuadas de solidariedade. Acionar
o motor de arranque dos planos de ação para que os objetivos possam
ser atingidos, no tempo e no espaço que planejamos. Passagem de ano
é como corrida com bastão...sem linha de chegada. No mundo dos
negócios é preciso alerta máxima, pois quando achamos que temos
todas as respostas vem o mercado e muda todas as perguntas.
Para melhorar a nossa pouco honrosa colocação (57ª) no ranking
mundial de competitividade, é emergencial otimizar os investimentos
em infra-estrutura e em IDH – índice de desenvolvimento humano –
alicerces para o desenvolvimento harmônico da economia e do social.
Eliminar o excesso da burocracia e do peso da carga tributária são
políticas essenciais ao maior grau de internacionalização da nossa
economia.
Para a iniciativa privada fica a lição de que a liderança de mercado
pode, também, ser transitória.Uma simples análise no ranking das 50
Maiores e Melhores empresas dos últimos 30 anos revela que 66% delas
não mais fazem parte dessa elite olímpica. Das 500 empresas que
constaram no primeiro anuário - Melhores e Maiores da Revista Exame
- publicado em 1974, apenas 88 companhias apareceram na listagem de
2004, sem se ausentar um só ano. Liderança é resultado do processo
de melhoria contínua.
No campo pessoal, é preciso ter a percepção de que qualidade de
vida, felicidade pessoal e carreira bem-sucedida são fatores da
mesma equação: “a beleza de ser um eterno aprendiz”. Conduta ética,
competência técnica, habilidades ecléticas,relacionamento
inter-pessoal, capacidade para decidir acertadamente, são
pré-requisitos à conquista profissional. A classe política, o
empresariado e cada cidadão, pode tirar lições exemplares do maior
espetáculo da terra – as olimpíadas. Com efeito cascata, esse evento
envolve todos os segmentos da economia mundial e da sociedade como
um todo. Entre as dezenas de modalidades esportivas elegemos o vôlei
como modelo de gestão.Ele é referência em planejamento,conhecimento
e “processos de fazer” compartilhados – ingredientes indispensáveis
da receita de sucesso para qualquer empreendimento.Tendo como
fundamentos principais o compartilhamento do conhecimento, a
descentralização do poder e o espírito de equipe,o modelo de gestão
interativa encontra, na cultura das organizações, a grande muralha
para sua consolidação.
Nós ainda temos um estilo autoritário de administrar,inclusive pelas
raízes pouco profundas da nossa democracia.Este é o
calcanhar-de-aquiles das empresas,fator inibidor para que os
funcionários sintam prazer pelo trabalho e orgulho da empresa –
pré-requisitos indispensáveis para encantar os clientes.Este
inadequado jeito de gerenciar pode ser comprovado pelas ocorrências
conflitantes do dia-a-dia das empresas e pela divulgação de
pesquisas,como a coordenada pela professora Betânia Tanure de
Barros,da escola para executivos Fundação Dom Cabral (MG), que
concluiu: - “Se comparado a 30 anos atrás o nível de concentração de
poder mudou muito pouco no Brasil.Só o discurso é diferente.”
A descentralização do poder decisório é um dos fundamentos do novo
perfil da organização competitiva,seja ela pública ou privada. Este
estilo gerencial – que melhora as relações entre o capital e o
trabalho - provoca motivação nos funcionários, fidelização dos
clientes, maior lucratividade através de parcerias estratégicas e
desburocratização dos serviços públicos.Enfim, reduz o Custo Brasil.
Concluímos que para mudar o modelo de gestão temos que radicalizar,
ou seja, temos que “virar a própria mesa”,pois para fazer omelete é
indispensável quebrar os ovos.
* Faustino Vicente - Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos –
e-mail: faustino.vicente@uol.com.br - tel.(011) 4586.7426 – Jundiaí
(Terra da Uva) SP
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