Saúde sem idade nem vaidade - Agnes M P Altmann
Não é o caso de se valorizar tão somente as aparências, mas elas
também dizem muito sobre a psicologia humana. Não é que "de repente"
seja uma questão do "culto à forma", como é muitíssimo explorado e
supervalorizado pela publicidade, o que por certo fomenta a cultura
brasileira focalizada mormente no 'corpo de manequim', vício esse
enraizado atualmente não mais apenas em função só das mulheres, mas
também dos desleixados homens, outrora verdadeiros 'semi-deuses
gregos', que a despeito de valorizarem as formas femininas,
acreditavam que a recíproca não fosse verdadeira. Entretanto, uma
feita que a mentalidade feminina reverteu contra tais cobranças da
`boa forma" até como fator de "competitividade" sentimental, muitas
delas lá têm suas exigências em função justamente desse "culto ao
corpo", que lhe era unilateralmente exigido pela vida, como
`consumista´ de tudo que se refere à boa aparência, tida pelos
exigentes empregadores, inclusive, quanto à apresentação e boa
aparência, como fonte de renda e até de credibilidade, prestígio e
notoriedade em colunas sociais...
Não que a boa forma física não mereça ser preservada, por mera
vaidade, porquanto do ponto de vista da saúde e performance do
corpo, "todo atleta em tudo se controla" (1 Coríntios 9:25) para
manter sua vitalidade, não que a aparência em si seja reflexo de
todos os cuidados que ao mesmo deve ser dispensado, a começar pelos
alimentos ingeridos, do que fazer para manter sua agilidade,
elasticidade, metabolismo e a forma tão benéfica para se poder
desenvolver toda e qualquer atividade, mesmo em idade avançada.
Entretanto, o problema é o fomento das mídias em fazer do corpo a
principal fonte de sucesso e transformá-lo em objeto de cobiça e
desejos de consumo desmesurados, inclusive luxúria e lascívia,
gerando dissabores para às próprias `vítimas do sucesso´ nacionais e
internacionais, `descobertas´ pelos caçadores de publicidade,
apoiados na imagem, sobretudo de mulheres bastante jovens, em idade
onde naturalmente possuem corpos bem formatados e magros, a fazer
crer que todos, para serem `felizes´, precisam ter exatamente as
mesmas medidas, e com isso, levando muitos a quererem "estar" tal
qual na `forma´ dos 15-20 anos de manequim obcecada em permanecer na
"carreira", ou manter-se sempre na "moda", não sem causar a inveja
dos que, por outro lado, não procuram ter os mesmos cuidados consigo
próprios, às vezes causando a si mesmos e aos outros danos
indesejáveis, por cobiçarem os biótipos e perfis físicos dos mais
procurados, sobretudo pelos que vêem no corpo seu ou alheio, um meio
de exploração econômica, e isso, não sem causar muitas vítimas
desinformadas. E desse modo, quem não possui o `biótipo da magreza´
para manter o peso nas medidas mais procuradas, para preencher o
perfil do "sucesso" semelhante aos dos famosos vendedores da própria
imagem, caem nas armadilhas dos remédios inibidores de apetite que,
uma vez utilizados sem o devido acompanhamento médico, provocam
inanição, anorexia e até a morte.
Em alguns casos, verifica-se já o aumento do consumo no Brasil, de
quantidades de moderadores de apetite em proporções maiores que o
dos habitantes de países europeus... Embora, na Europa e em outros
lugares do mundo a `forma esbelta´ não é nem mesmo, talvez, o padrão
para medir sucesso, ao que alguns famosos obtiveram, mas isso apenas
de modo camuflado, vez que as grandes manequins européias são
detentoras de corpos de manequins e pagam um preço por isso. Mas,
muito pior do que isso, é que o fazem muitos imitadores de
artistas,recorrem à farmacêutica de maneira indiscriminada, sem
assistência médica especializada ou com receitas assinadas até por
caseiros "doutores contra a obesidade".
O vício dos remédios, se é grave, tampouco deixa de ser tão grave a
falta de Vigilância Sanitária Municipal que não sabe tratar ainda da
problemática da obesidade no Brasil - quem diria -, vitimando
sobretudo os mais jovens, cuja auto-afirmação se dá sobretudo com
base no seu perfil físico. Aí sim, caberia, como medida cautelar,
fosse intensificado o controle à obesidade, com a fiscalização tanto
pelos médicos em geral como por meio das campanhas contra o consumo
e venda indiscriminados, seja de medicamentos inibidores de apetite,
como também do consumo exagerado de alimentos com altíssimas
dosagens de colesterol, causadores dos mais graves danos à saúde
pública, que leva muitos a essa busca desenfreada de repressores de
apetite, que não podem ser depois nem mesmo controlados como
remédios das drogarias.
Se um público cada vez maior, sobretudo de adolescentes e
pré-adolescentes, em fase de formação da personalidade e caráter,
vitimados e influenciados pelos modismos consumistas tão apregoados
pela publicidade do "culto ao corpo", usando e abusando de perfis e
aparências físicas, que não enganam e enganam ao mesmo tempo, vive
às voltas à procura da `forma perfeita´, até para se sentirem mais
bem aceitos pela cultura das cobranças "esculturais formais", de
supervalorização tão somente do físico, como forma de conquista e,
buscam sem nenhuma orientação de formas mais 'práticas' para o
consumo de alimentos de baixo teor de calorias, dificilmente
encontradas, parecendo até ironia e ao mesmo tempo um paradoxo
contra-cultural, que se observa nas prateleiras das farmácias, nas
`cozinhas´ das receitas caseiras altamente calóricas, nos
supermercados, lanchonetes, bares e restaurantes onde se consome
alimentos quando não contaminados de inseticidas, também estão longe
da quantidade ideal de nutrientes e de calorias acima da média,
ajustados a cada faixa etária. Assim, não raras vezes, não apenas os
próprios pais, junto aos conselhos regionais de Medicina e Farmácia,
como as escolas e representantes junto às indústrias alimentícias,
mal não fariam estar comprometidos com a saúde pública, cobrando
melhor fiscalização, tanto pelo excesso de alimentos altamente
calóricos como pela corrida aos remédios inibidores de apetites, por
sua vez ineficazes no controle de peso.
Por certo que a boa forma não é pecado e sim o que dela se faz, do
mesmo modo como a gula não controlada que também compromete a boa
saúde física, incluso muitas vezes a própria perda da auto-estima, e
essa é causadora de sentimentos mórbidos, inclusive inveja contra os
que cuidam e zelam pelo seu corpo de forma normal. Outrossim,
cabível sem dúvida a vigilância aos estabelecimentos que, por
relaxamento, não verificam sequer, muitas vezes, nem mesmo os nomes
certos do remédio, do paciente, do médico escritos no receituário, e
não mantêm o cuidado de verificar a entrada e saída de tais produtos
corretamente. Ademais, do mesmo modo como se exerce um controle em
relação às drogas mais fortes para não gerar dependência nem causar
danos à saúde - os alimentos altamente calóricos como os moderadores
de apetite, consumidos sem necessidade e por pura, tola e doentia
gula ou vaidade-, merecem o mesmo controle. Nada de bolos, tortas,
docinhos, queijos, chocolates tão tentadores. Com isso, se evitariam
vícios, maus hábitos alimentares que provocam doenças, seja pelo
alto como pelo baixo teor de nutrientes que dificultam a manutenção
da boa forma e do equilíbrio físicos, com uma dieta saudável e em
quantidades normais toleradas pelo metabolismo normal do corpo
humano, sobretudo devido à falta de drogas eficientes que ajudem no
controle do peso normal do corpo humano, nas medidas adequadas às
peculiaridades de cada uma das faixas etárias, afim de se poder
permanecer não necessariamente jovem mas em forma ainda que não
tanto como as jovens manequins da moda.
A boa forma física não precisa, ao contrário das manequins, se
transformar em tortura, basta que se procure manter, segundo os
especialistas em dietas, os bons hábitos alimentares, cuidando para
não ingerir tantos alimentos com excesso de colesterol. Entretanto
esse é o "X da questão", pois os prejuízos com a diminuição do
consumo de colesterol significa parar de consumir feijoadas,
macarronadas, buchadas, dobradinhas, sarapatéis, pipocas, virados,
vatapás, barrados, etc., tão caros às cozinhas regionalistas, sem
mencionar as altas quantidades de alimentos industrializados que não
sairiam das prateleiras e do cardápio de muitos restaurantes - quem
diria - e com isso não mais seriam tão assiduamente freqüentados.
Contudo, há os que não se importam com forma alguma na hora de comer
mas vivem inconformados procurando depois cura nos remédios... A
forma, por ter seu preço, é coisa séria e a saúde o é mais ainda.
Agnes M P Altmann
Data: 11/5/2005
www.jornalada.com
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