EDITORIAIS


O ambiente verde amarelo

Agnes Marta Pimentel Altmann

Kyoto japonês e agora EUA? Necessidades ambientais.
A entrada em vigor do Protocolo de Kyoto se para uns causa problemas, para o Brasil oferece a oportunidade de um trabalho vanguardista de desenvolvimento sustentável com a aplicação de técnicas inovadoras para se assegurar a preservação do meio ambiente mais equilibrado no que se refere à limpeza das águas, do solo e do ar, geradoras de benefícios em forma de projetos empresariais e qualidade de vida para todos. Exemplar no país a introdução do álcool como alternativa energética, cultivo direto na agricultura e crescente taxa de reciclagem de materiais. O acordo obtido em Kyoto, semente gerada na Conferência Rio-92, prevê que os países industrializados reduzam progressivamente sua emissão de gases geradores do efeito-estufa que leva ao aquecimento da atmosfera terrestre a um nível 5% inferior ao medido em fins do século passado. O objetivo, além de disciplinar tais emissões poluidoras, é estimular a adoção de técnicas capazes de minimizar o dano à natureza. Excepcionalmente nações e empresas geradoras de poluição podem desonerar-se via aquisição de "créditos" de poluição substitutos em outras partes do planeta.
Assim, uma usina siderúrgica em país industrializado pode adquirir sua quota de redução de emissão poluidora apoiando um projeto no Brasil: reflorestamento de árvores nativas para fixação de gás carbônico existente na atmosfera, usina de processamento de lixo urbano e assim por diante. Esse Mecanismo de Desenvolvimento Limpo que já deveria ter sido estruturado pelas Nações Unidas, tem seu alcance limitado: o propósito final é incentivar os poluidores a corrigirem o seu próprio passivo ambiental.Nessa dimensão entramos nós brasileiros se é que amamos mesmo o nosso verde e amarelo. Além do álcool já hoje utilizado em veículos movidos por bi-combustíveis - invenção pioneira de nossa indústria automotiva -, o Brasil desenvolve lavouras energéticas para produção de biodiesel, que mistura óleo diesel com vários produtos da lavoura (soja, girassol, mamona, etc.) para movimentar a frota de caminhões e ônibus, soluções essas que têm seu mercado de exportação como "commodities" ambientais seguras e confiáveis.Contudo, precisa-se e é possível fazer mais: um ambientalista da região de Curitiba está obtendo adubo orgânico a partir do lixo doméstico composto por resíduos alimentares. Segundo esse pesquisador, mesmo o material de descarte higiênico pode ser utilizado para adubar lavouras agroenergéticas. Com isso, em breve poderão ser dispensados os aterros sanitários municipais que causam celeumas, criando-se uma cadeia de valor econômico e de empregos nas novas atividades.A "política industrial do meio ambiente" é apoiada por especialistas que hoje explicam como as pessoas já não diferenciam categorias ambientais de outras questões da sociedade moderna, tendendo a apoiar aquelas que oferecem oportunidades, rejeitando ou desconsiderando as demais. Daí a exploração dos recursos amazônicos pode ser vista pelo enfoque do manejo sustentável em que tecnologias novas garantam renda para os moradores da região - em vez de proibição pura e simples de sua utilização. A propósito, no último Fórum Econômico, em Davos, o Índice de Sustentabilidade Ambiental alertou: nações muito desenvolvidas sob o conceito de Índice de Desenvolvimento Humano poderiam estar estressadas ou com vulnerabilidade ambiental - há risco de catástrofes, os lençóis freáticos estão baixando e as colheitas enfrentam queda progressiva. Segundo o professor da USP, José Eli da Veiga, hoje prevalece o consenso de que o desenvolvimento sustentável caminha lado a lado com valores caros à sociedade, tais como a própria justiça social e a democracia, o que qualifica o desenvolvimento, pela tomada de consciência sobre a importância dos fatores naturais. Perseverar na busca do desenvolvimento evolutivo, mas sem fundamentalismos ambientais que rejeitam qualquer progresso sob a condição de que seja sustentavelmente ecológico para evitar a destruição desgovernada e agressiva contra a natureza de que o Homem é parte principal.Não obstante, para os EUA o Protocolo ambiental firmado em Kyoto é uma pedra no sapato... Correm o risco de terem no futuro o próprio sapato furado... E ainda se questionam, e agora o que fazer com esse Protocolo? Os Estados Unidos alegam ter "muito boas razões" para rejeitar o Protocolo de Kioto. "O Senado norte-americano manifestou-se claramente, anos atrás, sobre o Protocolo de Kyoto e votou unanimemente contra esse enfoque, por muito boas razões",sem especificar quais `razões´ e não as que o atual governo de GWB alega de que tais restrições às emissões de gases causadores do efeito estufa, estabelecidas no tratado, vão afetar a produção industrial dos EUA. Eles lá tem por protocolo afirmar que o Governo GWB está `comprometido´ como nunca antes para reduzir o efeito estufa, sem arriscar a economia de `continuar prosperando´... é apostar mesmo no duvidoso pelo que é certo: a natureza cobra caro! Vão mesmo procurar chapeuzinho vermelho em floresta onde só se encontrará lobo mau...

Agnes Marta Pimentel Altmann

Fonte: Jornalada
Data: 17/2/2005
www.jornalada.com

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