Relatório sobre a Família Bin Laden - Georg Mascolo e Erich Follath
De: REYNALDO FERREIRA
Enviada: seg 20/6/2005 18:49
Amigos, No momento em que os EUA anunciam já ter conhecimento do
abrigo onde se esconde Osama Bin Laden, este artigo, que lhes
repasso, é interessante para que se possa fazer uma avaliação do que
tem sido sua vida. Abs, RDF
19/06/2005
Família Bin Laden: Osama da riqueza ao terror
Osama, ovelha negra, foi renegado em 1994. Mas a família rompeu
mesmo com o megaterrorista? Documentos secretos sugerem o contrário.
A violenta carreira de Osama foi possibilitada pela generosidade de
sua família -- e seus contatos com a realeza saudita Osama, ovelha
negra, foi renegado em 1994. Mas a família rompeu mesmo com o
megaterrorista? Documentos secretos sugerem o contrário. A violenta
carreira de Osama foi possibilitada pela generosidade de sua família
-- e seus contatos com a realeza saudita
Georg Mascolo e Erich Follath
Osama Bin Laden continua foragido. Mais perguntas estão sendo feitas
no momento sobre quanta ajuda ele teria recebido de sua família.
No início da primavera de 2002, agentes da inteligência americana
informaram as autoridades da Bósnia-Herzegóvina que algo não estava
certo com a "Fundação Internacional de Benevolência".
A reação delas foi rápida; forças especiais invadiram oito
escritórios da fundação islâmica em Sarajevo e em Zenica. Elas
encontraram armas e explosivos, vídeos e panfletos convocando para a
guerra santa. Mais importante, elas descobriram um computador com um
arquivo misterioso intitulado "Tarich Osama" -"A História de Osama"
em árabe.
Após imprimir o arquivo --com aproximadamente 10 mil páginas-- os
especialistas da inteligência rapidamente perceberam que tinham
tropeçado em uma verdadeira mina de ouro.
Eles estavam diante de nada menos do que a história cuidadosamente
documentada da Al Qaeda, completa com cartas escaneadas, minutas de
reuniões secretas, fotos e notas --algumas escritas à mão pelo
próprio Osama Bin Laden. Especialistas da CIA se apoderaram do
material altamente sensível, o apelidaram de "Cadeia Dourada" e
levaram tudo para os Estados Unidos.
Até hoje, apenas fragmentos do material foram publicados. Mas agora
a revista Der Spiegel teve acesso completo a toda série de
documentos explosivos que datam do final dos anos 80 até o início
dos anos 90.
Durante este período, Osama Bin Laden, conhecido como "OBL" no
jargão da CIA, estava basicamente interessado em "preservar o
espírito da jihad" que se desenvolveu durante a bem-sucedida
campanha no Afeganistão -- um combate que viu um grupo internacional
de combatentes muçulmanos enfrentar o poderoso exército soviético.
Bin Laden queria expandir as atividades do grupo para enfrentar "os
infiéis" no Ocidente. Uma década inteira antes dos ataques contra as
Torres Gêmeas, como deixam terrivelmente claro os documentos, Bin
Laden já sonhava em "provocar um evento importante para a mídia de
massa, para gerar doações".
As finanças são o ponto central deste documentos iniciais da Al
Qaeda.
OBL, como um dos herdeiros de uma grande construtora, tinha uma
fortuna substancial à sua disposição, mas ainda não era suficiente
para financiar uma jihad global. A elite saudita -e sua própria
família- o auxiliou.
"Seja generoso quando estiver fazendo a obra de Deus"
A evidência está no documento mais valioso que os investigadores
conseguiram adquirir: uma lista dos principais financiadores da Al
Qaeda. A lista, intitulada com um verso do Alcorão: "Seja generoso
quando estiver fazendo a obra de Deus", é um verdadeiro quem é quem
da monarquia do Oriente Médio, incluindo assinaturas de dois
ex-ministros, seis banqueiros e doze empresários proeminentes.
A lista também menciona "os irmãos Bin Laden". Será que estes
generosos financiadores estavam cientes na época de que estavam
doando dinheiro não apenas para apoiar a expansão agressiva do
ensinamento da fé islâmica, mas também financiando atos de terror
contra os não crentes?
Será que "os irmãos Bin Laden", que primeiro prometeram dinheiro
para a Al Qaeda e depois, em 1994, divulgaram uma declaração
conjunta de imprensa de que estavam expulsando Osama da família como
"ovelha negra", realmente romperam os laços com seu parente de
sangue --ou simplesmente estavam lançando uma cortina de fumaça aos
olhos do mundo?
Bin Laden se tornou um nome conhecido após os ataques de 11 de
setembro.
Vincent Cannistraro, o ex-chefe de contraterrorismo da CIA, disse:
"Eu rastreei os Bin Laden por anos. Muitos parentes alegavam que
Osama não era mais um deles. É algo fácil de dizer, mas sangue
geralmente é mais forte que água."
Carmen Bin Laden, uma cunhada do terrorista, e que morou com a
família estendida em Jidda por anos, disse: "Eu absolutamente não
acredito que os Bin Laden repudiaram Osama. Nesta família, um irmão
é sempre um irmão, independente do que ele tenha feito. Eu estou
convencida de que a rede complexa e firme entre o clã Bin Laden e a
família real saudita ainda está em operação".
O documentarista francês Joël Soler chega até mesmo a se referir à
família como "Uma Dinastia de Terror", em seu documentário um tanto
especulativo feito para a televisão.
Mas será que isto é realmente possível? Será que os Bin Laden (ou
"Binladin", como costumam soletrá-lo), com seus 25 irmãos, 29 irmãs,
cunhados, tias e, até agora, pelo menos 15 filhos de Osama, não são
nada além de um clã de terroristas? Ou será que os parentes estão
sendo censurados pelos crimes de um membro da família, tudo por
culpa de lendas e teorias de conspiração?
O célebre advogado americano Ron Motley planeja impetrar um processo
contra os supostos financiadores sauditas da Al Qaeda em nome das
centenas de famílias que perderam parentes nos ataques terroristas
de 11 de setembro de 2001.
Listados entre os réus convocados pelo juiz federal Richard Casey, a
pedido de Motley, em janeiro de 2005, estavam Osama e um de seus
irmãos, assim como a empresa bilionária da família em Jidda, o Saudi
Binladin Group.
Rastreando os Bin Laden ao redor do globo
Para formar uma impressão destas família singularmente grande, é
necessário viajar para o reino no deserto, onde ela tem suas raízes,
assim como para Washington, Genebra, Londres e a região de fronteira
entre o Paquistão e o Afeganistão --em outras palavras, todos estes
lugares onde os Bin Laden deixaram suas marcas ou onde vivem
atualmente.
E a melhor forma de chegar a fundo neste clã é montando suas muitas
partes. Apenas assim ficará mais aparente se os Bin Laden são um clã
de terroristas ou (com uma exceção bem conhecida) uma família
altamente sociável.
A história de Bin Laden, com suas reviravoltas dramáticas, quase
parece uma versão árabe do romance "Os Buddenbrooks" de Thomas Mann.
Em ambos os casos, é uma história de um patriarca imponente, que
conseguiu manter o clã unido, e de seus filhos, que não conseguem ou
não desejam deter o declínio moral da família.
A Al Qaeda conta com financiadores em todo o mundo.
Jidda é um dos principais portos de entrada para peregrinação à
cidade sagrada muçulmana de Meca --e da sede da empresa da família,
o Saudi Binladin Group (SBG).
"Nós temos um prefeito e todo tipo de políticos pesos pesados. Mas o
verdadeiro governante de Jidda é Bakr Bin Laden", disse um
informante que concordou em falar apenas sob a condição de
anonimato.
"Mas Bakr nunca é visto em público, e quando ele vai ocasionalmente
ao Intercontinental Hotel para jantar --geralmente acompanhado de
Abdullah, o filho de Osama-- o restaurante é totalmente fechado.
Durante uma excursão pela cidade, o informante apontou para o
palácio de vidro e aço não distante da área central da cidade, com
seus becos sinuosos e pintura superficial em antigas casas
reformadas.
Aquela é a sede do SBG, o reino reservado de Bakr Bin Laden, 58
anos, filho do patriarca da família e presidente do conselho de
diretores da empresa.
Jidda é o lugar onde o pai fundador do clã iniciou sua carreira
impressionante. E também é o local onde o primeiro membro da família
se tornou ligado ao terrorismo islâmico -não Osama, mas seu irmão
mais velho, Mahrus Bin Laden.
As autoridades americanas também ligaram claramente outro membro do
clã, Mohammed Jamal Khalifa, que é casado com uma das irmãs de
Osama, a ataques terroristas no exterior.
Apesar do patriarca Bin Laden --Mohammed Bin Laden- ser praticamente
analfabeto, ele foi abençoado com tremenda energia e um senso afiado
para negócios. Em 1930, ele deixou sua aldeia, Ribat, na região
iemenita desesperadamente pobre de Hadramaut, e seguiu para o norte.
Em Jidda, na época uma cidade pequena, ele ganhava a vida como
condutor de peregrinos, poupando firmemente o que ganhava para abrir
sua própria empresa.
Um ano depois, quando o reino do deserto da Arábia Saudita ganhou
sua independência, o imigrante do sul ainda estava lutando para
pagar as contas.
Mas ele rapidamente reconheceu dois fatores que estavam se tornando
cada vez mais importantes em seu país adotado: o petróleo, que
estava jorrando dos poços sauditas desde 1938 e, com seus enormes
lucros, estava revolucionando a sociedade tradicional do país e
fazendo as tribos nômades se assentarem; e o rei autoritário do
país, cuja patronagem às vezes determinava a sobrevivência, mas
sempre determinava o avanço social.
Um terceiro fator que foi crítico para o sucesso do Estado, e que
estava simbolicamente ligado à monarquia desde o início, foi o
establishment religioso em sua forma particularmente saudita.
Os princípios do wahhabismo --como o Islã saudita é conhecido- têm
suas raízes em Ibn Abd Al Wahhab, um religioso radical do século 18,
e foram os aliados mais poderosos dos Saud em seus esforços para
assumir o controle da península. Após a fundação do Estado saudita,
o fundamentalismo se tornou a religião oficial.
O construtor da corte real
Mohammed Bin Laden não tinha disputas com pregadores ou príncipes;
sua única meta era chegar ao topo, e o ramo de construção foi a
plataforma de lançamento ideal. O reino precisava de estradas,
ferrovias e aeroportos.
O patriarca Bin Laden construiu rampas no palácio para a cadeira de
rodas do deficiente rei Abd Al Aziz e estradas nas montanhas para
seus carros luxuosos. Bin Laden foi posteriormente nomeado ministro
dos Gastos Públicos, e a família real até mesmo lhe concedeu um
contrato para reformar os lugares sagrados do país.
A empresa da família, o SBG, rapidamente se desenvolveu em uma
construtora da corte para toda a infra-estrutura saudita.
Seguindo uma antiga tradição islâmica, o patriarca Bin Laden tinha
várias esposas. Em 1956, ele se tornou pai de seu 17º filho com uma
mulher síria chamada Latakia, e o menino recebeu o nome de Osama.
Deve ter sido difícil para o patriarca acompanhar sua família; dez
anos depois, nascia o 54º filho --o último de Mohammed Bin Laden. Em
1968, o patriarca morreu na queda de seu Cessna, pilotado por um
americano --um prenúncio das coisas que estavam por vir.
O rei colocou os negócios da família, o SBG, sob administração de um
curador, tornando os filhos de Bin Laden tutelados de fato do
monarca.
Osama tinha 10 anos na época e era ocasionalmente autorizado a andar
nos tratores da empresa.
Mas ele mal conheceu seu pai -uma carência que ele reconheceu apenas
muito mais tarde, quando elevou o patriarca da família ao status de
"spiritus rector" (guia espiritual) em assuntos de fundamentalismo
islâmico.
Já na infância, Osama sempre foi considerado o "santo" da família.
Ele chamou atenção para si mesmo quando condenou os torneios de
futebol escolares como um desperdício ímpio de tempo e ao monitorar
assiduamente as casas dos vizinhos, assumindo por conta própria a
responsabilidade de assegurar a proibição de música pelo Estado.
Ele se matriculou no programa de economia da Universidade Rei Abd Al
Aziz em Jidda, onde o currículo era determinado por agitadores
anti-Ocidente da Irmandade Muçulmana egípcia.
A família se dividiu em um ramo mais estacionário e um ramo
"internacional", que se espalhou pelo mundo. Um membro deste segundo
campo foi Salem Bin Laden. Ele freqüentou uma universidade
britânica, se casou com uma mulher de uma família de classe alta
britânica e passou férias na Disneylândia.
Em 1972, quando o governo saudita devolveu o controle do SBG, Salem,
como o filho mais velho da família, foi nomeado chefe da empresa e
rapidamente deixou claro que não tinha constrangimento em realizar
negócios com os Estados Unidos.
Salem Bin Laden estabeleceu os laços da empresa com a elite política
americana quando, segundo fontes da inteligência francesa, ele
ajudou o governo Reagan a driblar o senado americano e canalizar US$
34 milhões para o rebeldes Contra de direita que operavam na
Nicarágua.
Ele também desenvolveu laços estreitos com a família Bush no Texas.
Mas os sucessores de Salem, e não Salem, foram aqueles que foram
capazes de explorar plenamente estas ligações. Em 1988, Salem morreu
em uma queda de avião perto de San Antonio, Texas, quando o avião
que ele pilotava se emaranhou em uma linha de transmissão de
energia. Após a morte de Salem, Bakr assumiu o controle da SBG.
Irmão terrorista
Enquanto isso, problemas surgiam em casa na Arábia Saudita --em
Meca, entre todos os lugares, e com o suposto envolvimento de um
membro da família. Em novembro de 1979, rebeldes ocuparam e se
entrincheiraram dentro do local mais sagrado do Islã, exigindo o fim
da corrupção e do desperdício na Arábia Saudita e acusando a família
real de ter perdido sua legitimidade ao bajular o Ocidente.
Foi um ato de terror que prenunciou cada grande alicerce da
plataforma de fundamentalismo radical da Al Qaeda --e não foi
coincidência o fato de seu grupo radical ter sido liderado por
membros da Irmandade Muçulmana com laços com os professores de
Osama.
Na época, Osama ainda estava entrincheirado na sociedade saudita,
mas seu irmão mais velho, Mahrus, mantinha ligações com os
fanáticos. Até mesmo especula-se que ele pode ter usado seu acesso
aos escritórios do SBG para obter os planos de reforma da Grande
Mesquita, assim como a todas as suas passagens secretas, e os
entregou para os radicais.
De qualquer forma, os fanáticos abriram caminho à força até o
terreno da mesquita em um caminhão que posteriormente foi
identificado como sendo um veículo da companhia Binladin.
Mahrus Bin Laden foi preso, mas posteriormente foi libertado por
falta de evidências. O ataque terrorista se transformou em um
pesadelo para as autoridades.
Com a ajuda de forças especiais francesas, os sauditas conseguiram
superar os agressores, mas apenas após um sítio de duas semanas e
uma batalha sangrenta que custou mais de uma centena de vidas. Mas
para a carreira de Mahrus, o caso provou ser nada mais que uma
pequena lombada de estrada e ele reapareceu posteriormente como
chefe da filial do SBG em Medina.
No final de 1979, Osama, com a bênção da família real, partiu para o
Afeganistão para participar da jihad contra a União Soviética, que
tinha invadido seu vizinho do sul. Tanto a CIA quanto a Arábia
Saudita ajudaram a financiar a luta armada mujahedeen contra os
"infiéis" comunistas.
O príncipe Turki, chefe do serviço secreto saudita, visitou Osama
várias vezes no Afeganistão e equipamento pesado fornecido pela SBG
foi usado para escavar túneis secretos. Para Osama, o apoio da
família Saud e dos Bin Laden se tornou uma fonte confiável de
recursos.
Em 1990, após seu triunfo no Afeganistão, OBL ofereceu à família
real saudita o uso de suas tropas para enfrentar Saddam Hussein,
cujas forças tinham invadido o Kuwait. Mas o rei Fahd optou por
chamar as forças americanas.
A decisão provou ser um sucesso financeiro para os negócios da
família, que ajudou a construir bases militares para os forasteiros,
mas foi um momento decisivo na vida de Osama. Amargurado, ele foi
para o Sudão em 1992, onde construiu campos de treinamento e
organizou ataques com seu grupo Al Qaeda, especialmente contra
"infiéis" dos Estados Unidos.
Ele também assegurou para que o planejamento das atividades
terroristas permanecesse na família. Seu cunhado, Mohammed Jamal
Khalifa, esteve envolvido no primeiro ataque terrorista ao World
Trade Center, em 1993.
Em seu pedido de visto para os Estados Unidos, ele listou sua
ocupação como "funcionário do Saudi Binladin Group". Khalifa ficou
detido por um breve período nos Estados Unidos, mas acabou sendo
deportado para a Jordânia, onde foi libertado por erros legais
formais. No passado, ele também tinha sido implicado como
financiador da organização terrorista filipina Abu Sayyaf.
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