Você compra produto pirata? Você financia tráfico de drogas e armas?
VOCÊ COMPRA PRODUTO PIRATA?
VOCÊ FINANCIA TRÁFICO DE DROGAS E ARMAS?
De: Vadis Bellaver Data: Mon, 30 May 2005 11:13:16 -0300 Assunto:
Você compra produto pirata? Você financia tráfico de drogas e armas?
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Date: May 27, 2005 8:53 PM Subject: "A pirataria é uma atividade do
crime organizado"
Editado pela Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão
Estratégica da Presidência da República. Nº 16 - Brasília, 27 de
maio de 2005.
Luiz Paulo Barreto
Secretário-executivo do Ministério da Justiça e presidente do
Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a
Propriedade Intelectual
"A pirataria é uma atividade do crime organizado"
Desde que foi instituído, em novembro do ano passado, o Conselho
Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade
Intelectual modificou totalmente o modo de enfrentar o problema que
atinge vários países do mundo. Coube ao conselho elaborar um Plano
Nacional de Combate à Pirataria que engloba 99 ações em três
vertentes: repressiva, educativa e econômica. Desde o ano passado,
as operações das polícias Federal e Rodoviária Federal e da Receita
Federal dobraram e, em apenas uma delas, dois milhões de relógios
foram apreendidos em São Paulo. Em entrevista ao Em Questão, o
secretário-executivo do Ministério da Justiça e presidente do
conselho, Luiz Paulo Barreto mostra como está sendo primordial para
o Brasil o fato de o governo ter deixado de encarar a pirataria como
um fenômeno social. Luiz Paulo também explica como a pirataria
impede a criação de novos postos de trabalho formais e faz com que o
país deixe de arrecadar R$ 27,8 bilhões por ano, o equivalente a
mais de quatro vezes o montante de recursos previstos para o
programa Bolsa Família em 2005.
Em Questão - Por que houve a decisão de se criar um Conselho de
Combate à Pirataria?
Luiz Paulo - Em 2001, foi criado um comitê interministerial de
combate à pirataria. Esse comitê tinha uma função mais voltada para
a base de educação e dentro de um conceito que o Brasil adotou nos
últimos 20 anos de considerar a pirataria um fenômeno social.
Percebeu-se que por essa visão social da coisa, o governo brasileiro
deixou o contrabando um pouco de lado. E essa prática cresceu no
país, a tal ponto que se tornou interessante para o crime organizado
por sua alta lucratividade. Depois da CPI da pirataria conseguimos
comprovar no Brasil que a pirataria está na mão de máfias
internacionais que atuam em todo o país, principalmente na região da
tríplice fronteira e em portos brasileiros. As operações de combate
à pirataria comprovaram que essas máfias também atuam com delitos de
maior potencial ofensivo como o tráfico de drogas, armas e munições.
Nesse contexto, o governo federal criou o Conselho Nacional de
Combate à Pirataria e aos Delitos contra a Propriedade Intelectual -
CNCP, que foi instalado em novembro de 2004. Trata-se de um conselho
único no mundo porque é o primeiro a unir governo e sociedade civil
para enfrentar o problema. Há seis assentos para a iniciativa
privada, hoje representada pelos setores de software, audiovisual,
música, industrial, jurídico e reprográfico. Com a participação de
todos, o Conselho elaborou o Plano Nacional de Combate à Pirataria,
composto de 99 ações, dividas em três segmentos: ações de caráter
educativo, repressivo e econômico. Houve uma mudança de foco na
visão do governo. O problema da pirataria deixou de ser visto como
fenômeno social para ser encarado como atividade do crime
organizado.
EQ - Houve um grande incremento das atividades repressivas. De que
forma o governo federal passou a atuar e quais os resultados
conquistados com esse trabalho?
LP - Com operações sincronizadas entre a Polícia Federal, Receita
Federal, e a Polícia Rodoviária. Por exemplo, a de Foz do Iguaçu, a
operação Cataratas, que derrubou em 25% o número de viagens de
sacoleiros ao Paraguai em 2004. Foram US$ 33,5 milhões em apreensões
e redução em 38,6% dos "pseudos" ônibus de turismo para Foz do
Iguaçu, veículos que não tinham nem bancos, tirados para dar mais
espaço para o transporte de mercadorias. Houve a apreensão de 386
ônibus no ano passado e dos cerca de 1000 utilizados pela logística
de transporte do crime organizado. Este ano, somente no primeiro
trimestre, foram apreendidos 110 ônibus. Há outras operações em
outros pontos de fronteiras e estamos começando a trabalhar mais
forte com os portos. Este ano, por exemplo, somente para citar
alguns números, foram apreendidos 128 mil óculos e 8 mil pares de
tênis no Porto de Santos, mais de 126 mil malas, frasqueiras e
mochilas falsas em Vitória/ES e 50 mil relógios, 10 mil bolsas, 50
mil dvds e 850 mil cds virgens em Suape/PE. Também estamos
detectando depósitos de distribuição de produtos piratas.
Recentemente, em São Paulo, em apenas um depósito, foram apreendidos
dois milhões de relógios e R$ 100 milhões em mercadorias. O local
pertencia a Law King Chong, preso desde junho de 2004, sob acusação
de contrabando, descaminho e pirataria. Há um trabalho sistemático
de combate à pirataria e ao crime organizado. Dados da indústria de
cigarros mostram que o contrabando desse produto caiu em 20% desde
que essas ações foram iniciadas. O principal alvo das ações,
entretanto, não são os camelôs. O camelô é a ponta mais frágil desse
problema. O alvo são as máfias que trabalham com a produção e a
distribuição de produtos piratas. Por isso, as operações como a
Cataratas, que praticamente interrompeu o acesso desses produtos via
Foz do Iguaçu desde o ano passado, estão sendo realizadas. Apenas
nos três primeiros meses de 2005, o número de apreensões é o dobro
do mesmo período do ano passado. Como resultado disso há setores da
indústria que já sentem uma recuperação nas vendas.
EQ - Como convencer o consumidor a não comprar produtos piratas
diante do apelo do preço em relação aos produtos originais?
LP - Primeiro mostrando que muitos produtos piratas expõem a saúde
do consumidor a risco, como é o caso de falsificações de remédios,
óculos, tênis, preservativos, peças de automóveis e até de bisturis
cirúrgicos. Vamos alertar que o barato sai caro. Muitos desses
produtos, por exemplo, o tênis, faz mal porque não tem absorção de
impacto, óculos pirata não têm a proteção de raios ultravioleta,
peças de automóveis são feitas totalmente fora dos padrões
recomendados pelos fabricantes e com materiais de péssima qualidade,
sem rigor técnico algum. Quanto aos cds e dvds piratas, vamos
mostrar ao consumidor que, ao comprá-los, está alimentando a mesma
máfia que coloca a droga e a arma no Brasil. Comprar um cd pirata
ajuda a alimentar uma cadeia de violência no país. O consumidor
precisa avaliar o fato de comprar um produto desse só porque é mais
barato. Para a realização de campanhas publicitárias com esse foco o
governo propôs à iniciativa privada a criação de um fundo, a ser
gerenciado por eles próprios, para investimentos em campanhas de
educação. Independente disso, várias já estão sendo veiculadas pela
mídia. E o governo vai investir em palestras, seminários e workshops
para agentes públicos, policiais, promotores e juízes, a fim de
intercambiar experiências no combate à pirataria. Precisamos também
trabalhar com os jovens, a fim de formar o consumidor do futuro.
Cabe lembrar que ao comprar um produto pirata, não estarão
asseguradas as conquistas obtidas com o Código do Consumidor, quanto
à garantia de satisfação do consumo. Na educação reside um dos
nossos maiores desafios, mas estamos mostrando uma clara mudança de
foco.
EQ - Outra vertente da atuação do conselho é acesso da população a
produtos formais. Como conseguir que uma parcela dos consumidores
brasileiros com poder aquisitivo mais baixo consiga adquirir
mercadorias originais?
LP - Com operações repressivas, começamos a causar prejuízos para o
crime organizado, principalmente se o alvo é rede de produção e
distribuição de produtos piratas. A partir disso, eles começam a
encarecer o produto. Já é possível verificar que dvds que eram
vendidos R$ 6,50, já estão sendo vendidos a R$ 10, R$ 11, R$ 12.
Quando as operações de repressão estrangulam os pontos de
distribuição há uma diminuição da disponibilidade de produtos
piratas e o conseqüente aumento do preço. Por outro lado, estamos
discutindo com a indústria o lançamento de produtos mais baratos,
acessíveis à população. Há dvds que já estão sendo lançados a preços
mais baratos e são campeões de venda. Há indústrias vendendo
softwares pela metade do preço para estudantes e professores. Há cds
originais sendo vendidos a R$ 7 nas lojas ou ainda mais baratos. O
mercado editorial está trabalhando com os livros de bolso para
baratear o custo. Tudo isso permitirá uma redução no diferencial de
preços entre os produtos originais e os falsos, uma das principais
formas de combater a pirataria.
EQ - O governo federal está cercando a porta de entrada de produtos
piratas. E as feiras e comércios espalhados por todo o país que
vendem essas mercadorias?
LP - Estamos incluindo o combate à pirataria dentre as ações
previstas no Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) para que esse
tipo de crime seja combatido de maneira integrada também nos Estados
e Municípios. O trabalho desenvolvido pelo governo federal tem
repercutido de uma forma bastante positiva junto aos Estados e
Municípios. Os governos locais estão criando delegacias
especializadas de combate à pirataria e aos crimes contra a
propriedade intelectual e despertando para o problema. Aqui no
Distrito Federal houve uma apreensão recente feita pela delegacia de
defraudações de mais de 200 mil cds e dvs. Também estamos realizando
seminários em todo o Brasil e propondo a criação de promotorias
especializadas na justiça no combate à pirataria. Há uma ação do
Conselho que se refere ao diálogo com os governos estaduais para que
não seja permitida a venda de produtos piratas em feiras instaladas
em espaços públicos cedidos.
EQ - A visão de que o combate à pirataria tira empregos ainda é
muito forte. De que forma essa mão-de-obra que vende o produto
pirata poderá ser absorvida dentro de um mercado de trabalho tão
competitivo?
LP - Ao comprar um produto pirata você não está fazendo um benefício
a ninguém, nem ao camelô. Quando você compra uma bolsa a R$ 100, por
exemplo, o máximo que o camelô vai ganhar são três, quatro reais por
mercadoria vendida. Todo o resto vai parar nas mãos da máfia.
Imagine quantos empregos seriam criados se essa bolsa fosse comprada
no mercado formal? Trabalhadores teriam que fabricá-las,
distribuí-las e vendê-las, tudo isso com aquisição de insumos,
gerando empregos, renda e impostos. O camelô é vendedor e, com a
repressão à pirataria esse vendedor vai voltar a comercializar
produtos legais, como artesanato e produtos típicos deixados de lado
até mesmo em feiras tradicionais, que estão infestadas de produtos
piratas e de péssima qualidade. Além disso, o governo pensa em
estabelecer convênios para capacitação de mão-de-obra, o que
facilitará o retorno desse trabalhador para a formalidade. É
importante dizer que a pirataria não gera emprego, ela promove a
perda de postos de trabalho. Alguns segmentos acusam a perda de 10
postos de trabalho diretos para cada camelô que vende produtos
piratas. Além disso, há perda de impostos em todos os setores
atingidos. Dados do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Unafisco)
revelam que o Brasil deixa de arrecadar R$ 27,8 bilhões por ano por
causa da pirataria. Um dinheiro que podia entrar na economia
brasileira, sendo aplicado em programas sociais, por exemplo. E
ainda há perdas impossíveis de quantificar como é o caso de empresas
que deixaram de abrir portas no Brasil por causa da pirataria.
EQ - Quais as principais intenções do governo com esse trabalho?
LP - Desmantelar as máfias que atuam no ramo, atacando as redes de
produção e distribuição de produtos piratas no Brasil e, ao mesmo
tempo, combater o problema no comércio local com a atuação dos
Estados e Municípios. Também pretendemos reduzir a informalidade e
contribuir para o crescimento da economia brasileira, que já vive um
momento de aquecimento. Nunca é demais lembrar que pirataria é
crime. A pirataria não é apenas um problema do Governo ou da
indústria, mas, sim, de toda a sociedade. Comprar produtos originais
movimenta a economia, gera empregos e riqueza nacional. Esse é o
caminho.
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