EDITORIAIS


Esperar o tempo certo...

Emerson Barros de Aguiar

Às vezes, por causa de ilusões tolas, uma pessoa pode trocar o verdadeiro pelo falso, o definitivo pelo passageiro, a felicidade real pelo prazer fugaz e gerador de remorso.

Deus, em Sua sabedoria infinita, compreende o homem e sua debilidade moral, apoiando-o para que ele recomece sempre e não erre mais. Contudo, é difícil quando esperamos que os outros compreendam rapidamente por que falhamos, por que fomos fracos, por que erramos.

Certos recônditos de nossa alma só são devassáveis por Deus. Por isso, essa compreensão tão profunda é um privilégio divino ou dos que estão muito próximos de Deus, como os sábios e os santos. O homem comum sente-se magoado e traído, o que é muito normal. O primeiro passo, quando erramos, é reconhecermos a falha e assumirmos as suas conseqüências. É preciso que admitamos o direito dos outros de ficarem tristes e decepcionados com as nossas ações infelizes.

Isso porque nem todos os danos que causamos a pessoas que amamos podem ser reparados instantaneamente. Às vezes, só após muito tempo o ressentimento e a mágoa podem desaparecer dos corações que ferimos. Daí porque se diz, em todos os manuais éticos do mundo, que evitar erros é mais fácil do que corrigi-los. É mais prudente buscarmos o controle sobre as nossas ações do que sobre os sentimentos dos outros.

Em relação aos erros passados, o fundamental é desenvolvermos a resistência ao mal, para que não cometamos outros deslizes na mesma direção. Sem esse passo, não há progresso nem solução. Isso feito, temos de aceitar que o tempo e a vida dêem curso aos acontecimentos e fechem as feridas. Não podemos, nem devemos, ditar prazos ou regras para a reconquista das pessoas que ferimos. Mas, se nos reabilitamos diante de nossa própria consciência, a vida sempre acaba encontrando um meio, no tempo devido, de fazer com que o perdão encontre o modo correto de restabelecer a perfeita paz e harmonia. Até lá é preciso esperar com fé, esperança e boa vontade no caminho do bem. Isso tudo pode ser traduzido com o nome de humildade.

A pressa em sermos compreendidos e perdoados revela apenas vaidade e egoísmo. São João da Cruz dizia que toda inquietação é sempre vaidade, algo semelhante ao que afirmou Mestre Eckhart de Hocheim, um monge dominicano alemão do final da Idade Média: "Ah! Os preocupados, cheios de si mesmos!" Somente quando aceitamos a nossa própria culpa e toda a extensão dos seus danos é que podemos aproveitar devidamente a oportunidade do recomeço.

Talvez a melhor palavra que pode ser dita a alguém que se deu conta de um comportamento prejudicial a outras pessoas é: "paz". Nada pode ser resolvido sem paz. Não podemos alterar o que fizemos de mal, seja o que for. Nem podemos mudar o que os outros pensam ou querem, mas com paz, guardaremos uma fé em nosso coração que nos permitirá resistir aos mais duros embates da vida. Ter uma atitude tranqüila e bondosa ajuda na tomada de decisões importantes.

É preciso também que mantenhamos a compostura moral diante dos reveses da sorte. Muitos nos têm como exemplo, ainda que não queiramos. Não devemos fazer exigências a Deus ou aos outros, mas podemos fazer o que estiver ao nosso alcance para garantirmos um caminho de vida mais equilibrado e feliz.

Se Deus não faz tudo o que temos vontade na hora em que queremos, Ele, por outro lado, sempre conta conosco para a instauração da paz e do equilíbrio...
 

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