Fenaj continua luta pela qualidade ética do Jornalismo
Patrões, parlamento e governo se unem para enterrar projeto do CFJ
Fenaj segue na luta pela regulamentação, qualidade e ética no
Jornalismo
O projeto que propõe o Conselho Federal dos Jornalistas está morto.
A esperança de milhares de jornalistas e a expectativa de segmentos
sociais importantes foram enterradas pelos coveiros tradicionais da
democracia e da organização da sociedade, aliados a inusitados novos
cúmplices.
Criticado à histeria desde o anúncio do seu encaminhamento à Câmara
dos Deputados pelo Executivo, o projeto do CFJ foi acusado, entre
coisas, de ser autoritário, de atender a uma suposta tentativa de
cerceamento da imprensa pelo Governo Federal e de manietar os
jornalistas num código de ética corporativo e principalmente, de ser
ilegítimo por ser proposto por uma entidade sindical, a Federação
Nacional dos Jornalistas. As verdadeiras intenções desses críticos
ficaram até agora encobertas pelo manto obscurantista de uma mídia
historicamente articulada com os segmentos mais atrasados do país.
O projeto do CFJ está morto e dançam sobre sua tumba os interesses
aparentemente mais contraditórios. Os empresários da mídia
brasileira devem se regozijar. Mais uma vez seus desejos são
atendidos. Escondidos atrás de um inverossímil discurso de liberdade
de imprensa, na verdade sempre tiveram a mais medíocre das
intenções: manter as condições salariais e de trabalho dos
jornalistas nos níveis mais baixos possíveis para compensar suas
cambaleantes taxas de lucros. Os empresários não admitem a
normatização ética da profissão, porque querem manter o poder de
decisão sobre o que pode e o que não pode ser informado à população.
Os donos da mídia e do poder real, mais uma vez, impuseram sua
vontade.
Indisfarçável satisfação devem estar sentido alguns jornalistas
desinformados e/ou mal intencionados, notoriamente aqueles com
espaço concedido e privilegiado, que serviram como verdadeiros cães
de guarda da monopolizada mídia nacional. Durante o debate público,
suscitado pelo envio do projeto, era visível o alinhamento submisso
à retórica patronal de preconceito e infâmia.
Alívio deve estar sentindo o parlamento brasileiro. Um parlamento
que, composto em grande parte de proprietários de veículos de
comunicação, reproduziu mais uma vez o lamentável espetáculo da
barganha, chantagem, coerção e principalmente, covardia. O processo,
conduzido pelo presidente da Câmara, Deputado João Paulo Cunha, pelo
líder do Governo Deputado Luizinho e pelo líder do PFL, José Carlos
Aleluia, sonegou à sociedade brasileira a possibilidade de continuar
o debate sobre o mais secreto e antidemocrático poder instituído no
país que é o poder das empresas de comunicação. Uma constrangedora
unanimidade se construiu em torno de um pragmatismo lamentável e,
como cúmplice silencioso, permitiu o assassinato do projeto. A maior
demonstração de subserviência, foi a indicação do deputado Nelson
Proença para a relatoria - um histórico defensor dos interesses dos
donos da mídia, proprietário de uma rede de rádios no interior do
RS. A FENAJ ressalva e louva a posição da bancada do PCdoB que
rejeitou o acordo de lideranças para sepultar o projeto e estranha o
comportamento de partidos do campo democrático e popular que
avalizaram tal impostura.
Melancólico foi o comportamento do governo que, se num primeiro
momento compreendeu a justeza da reivindicação dos jornalistas e
encaminhou o projeto, em seguida sucumbiu à prática de balcão de
negócios estabelecida com o Congresso e, parecendo admitir as
acusações de tentativa de cerceamento da imprensa, abandona o
projeto de organização da profissão de jornalista à própria sorte.
Mas se o projeto do CFJ está morto, viva o Conselho Federal dos
Jornalistas que advirá desse embate. Não é possível que o enorme
esforço dos jornalistas brasileiros seja jogado no lixo, como aliás
está nesse momento a lei que regulamenta a profissão. Não podemos
permitir que manifestações generosas e fraternas de alguns
parlamentares, entidades e organizações, como a OAB entre muitas,
sejam em vão.
Os jornalistas brasileiros não desistirão de terem o controle do seu
destino, que é a auto-regulamentação de sua profissão. Há 39 anos, o
Congresso arquivou o primeiro projeto de criação de um Conselho
Federal dos Jornalistas. Essa não é a primeira, e não será a última
vez que nos mobilizamos. A FENAJ - que nos últimos quatro meses
liderou um rico e histórico processo de debate sobre o jornalismo e
os interesses privados que controlam a mídia no país - seguirá firme
na luta. Mais do que uma legítima reivindicação de organização
profissional, o CFJ é um importante instrumento de valorização da
profissão e de garantia de uma informação de qualidade, pautada em
princípios democráticos e éticos.
Brasília, 15 de dezembro de 2004.
Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas NO5
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