EDITORIAIS


JORNALISTAS EM DIFICULDADES EM NOME DA INFORMAÇÃO

EFE: Jornalistas presos entre necessidade de informação e justiça
Por María PeñaWashington, 19 ago/2004 (EFE)

- As novas acusações de desacato feitas contra vários jornalistas que se recusam a revelar suas fontes, em um caso que poderia chegar ao Tribunal Supremo dos EUA, mostra o difícil equilíbrio entre a liberdade de imprensa e a ação da justiça.Segundo vários especialistas consultados nesta quinta-feira pela EFE, está em jogo a harmonia entre a independência dos meios de comunicação e a necessidade do Estado de poder usar os jornalistas como testemunhas em casos criminais.

O juiz federal Thomas Penfield Jackson declarou hoje em desacato cinco jornalistas que não querem identificar as fontes de uma informação sobre o cientista nuclear Wen Ho Lee, que em 1999 foi alvo de uma investigação do FBI por possível espionagem e cujo nome vazou.

Os jornalistas são Joseph Hebert, da agência Associated Press; James Risen e Jeff Gerth, do jornal "The New York Times"; Robert Drogin, do "Los Angeles Times", e Pierre Thomas, da rede de televisão ABC.Jackson impôs aos jornalistas - que apelarão do caso - uma multa de 500 dólares por dia até que divulguem suas fontes, mas suspendeu a sanção enquanto o caso vai aos tribunais.

Se o processo chegar até o Tribunal Supremo seria o primeiro sobre os privilégios dos jornalistas analisado pela corte dos EUA desde 1972.Naquela ocasião, o Supremo determinou que os jornalistas não têm o direito constitucional de ocultar informação confidencial se forem levados a um júri de investigação, que é o que determina se um caso merece ir a julgamento.

A ordem do juiz Jackson vem de um processo de 2000 do cientista do Laboratório Nacional de Los Alamos (Novo México), contra os departamentos de Energia e Justiça, para obter a fonte que vazou seus dados pessoais aos jornalistas.

Estes cinco jornalistas se somam a outro grupo de informadores de vários meios de comunicação, que foram citados para declarar no caso da revelação da identidade de uma agente da CIA porparte de altos funcionário do governo.

No último dia 9, o juiz federal Thomas Hogan declarou em desacato o jornalista Matthew Cooper, da revista "Time", por se negar a prestar testemunho diante de um júri que investiga o vazamento do nome da agente.Hogan pôs Cooper sob prisão domiciliar e multou a "Time", mas suspendeu a sanção durante o trâmite da apelação.

Ambos os processos preocupam os defensores da Primeira Emenda da Constituição - que protege a liberdade de imprensa mas não necessariamente a confidencialidade das fontes - e complica o trabalho dos jornalistas. Os meios afetados protestaram contra a decisão de Jackson, argumentando que as fontes anônimas às vezes são a única forma através da qual é possível informar certas notícias, sobretudo as relacionadas ao governo.

Além disso, se os jornalistas traírem a confidencialidade de suas fontes põem em jogo sua credibilidade e prejudicam seu trabalho diário, "porque já ninguém vai querer falar com eles", disse Lucy Dalglish, diretora do Comitê de Jornalistas para a Liberdade de Imprensa.

Os jornalistas também se arriscam a ir para a prisão, como aconteceu com alguns na década de 70.

"O jornalista também deve avaliar se o caso merece o anonimato. Criamos uma cultura na qual às vezes as fontes nos manipulam, nos utilizam como seus porta-vozes e, ali, o jornalista deve marcar sua posição", opinou Wendell Cochran, diretor do estudos de jornalismo de American University.

"Você pode economizar problemas legais se respeitar os princípios éticos da profissão e deve sempre analisar a importância da informação com o risco de violar as leis ou ir para a prisão", acrescentou.

A especialista legal Jane Kirtley, da Universidade de Minnesota, explicou que a Primeira Emenda protege o jornalista quando não houver libelo nem informação que represente um "perigo iminente". "O problema é que não há uma lei federal que outorgue 'privilégios' de confidencialidade de fontes. Há muitas dúvidas sobre quando proteger a confidencialidade, mas não acho que convém seja o Supremo que decida", observou.

No total, 31 estados dos EUA e o Distrito de Columbia têm leis que dão proteções limitadas aos jornalistas. © Agencia EFE 19/08/2004
 

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