OSCAR 2004 – Nobres e plebeus na corte do Rei ( I )
Theresa Catharina de Góes Campos
Na premiação do Oscar 2004, mais uma vez a lei do mais forte
prevaleceu.
O Rei voltou, como vem acontecendo nas salas de cinema, obtendo
uma vitória merecida (na história escrita pelos vencedores), mas
nem por isso menos desigual , no embate com obras
cinematográficas que investiram menos na produção, no tempo e
nos “ exércitos “ diante e atrás das câmeras.
A terceira parte – O Retorno do Rei - da trilogia “ O Senhor dos
Anéis”, baseada nos livros de J.R.R. Tolkien, saiu vitoriosa em
todas as categorias para as quais fora indicada – ll (onze)
Oscar: melhor filme, direção, edição (montagem), direção de
arte, roteiro adaptado, efeitos visuais, efeitos sonoros,
figurino, maquiagem, canção (música) e trilha sonora.
Após sete anos dedicados à trilogia, o diretor Peter Jackson
alcançou o mesmo número de Oscar de dois outros filmes, também
com onze premiações: o épico religioso “ Ben-Hur “ (1959) e
“Titanic” (1997). Mas o grande destaque, o Oscar de melhor
filme, não ficou com as duas primeiras partes da trilogia – “ O
Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel “ e “ O Senhor dos Anéis
– As duas torres”.
A luta é, de fato, dos filmes épicos, superproduções em si
mesmas grandiosas, contra histórias dramáticas, comédias,
narrativas ecológicas, musicais, momentos de poesia e reflexões,
farsas de costumes, tragicomédias.
Se os prêmios têm categorias, por que não ampliar as
possibilidades, reconhecendo os gêneros diferentes? Já existem
as categorias de filme de animação
(longa-metragem/curta-metragem) e documentário, por exemplo.
Aliás, as premiações científicas e técnicas foram entregues em
cerimônia realizada em 14 de fevereiro. Algumas cenas do evento
estiveram registradas, de forma bem rápida, em 29 de fevereiro,
portanto, como um grupo menos visível porque menos atraente para
a audiência televisiva internacional.
Está faltando, também, uma premiação em separado para os atores
adolescentes, que ainda competem, absurdamente, com os seus
“colegas” adultos.Como fazer uma comparação profissional,
esperar maturidade igual de uma jovem com 13 anos, a sensível
Keisha-Castle Hughes, talentosa protagonista de “ Encantadora de
Baleias” ( Whale Rider – Alemanha/Nova Zelândia – de de Niki
Caro -filme vencedor em diversos festivais internacionais) ? Não
precisamos ser médicos, nem juristas, para reconhecermos sua
adolescência e, portanto, um processo de crescimento físico e
mental a depender de um tempo de espera natural, e não, do
trabalho de um artista e seu diretor , por melhores que sejam.
Acreditando ser o jornalista o profissional capaz de analisar
sob uma perspectiva democrática, numa trajetória filosófica (e
pragmática também!) para transmitir informações que possibilitem
aos menos fortes um potencial maior, vou seguir neste artigo uma
prioridade diferente, quase contraditória, de modo a ressaltar
valores e qualidades que ficaram talvez negligenciados. Tanto na
cerimônia do Oscar 2004 como na previsão de uma trajetória de
exibição com menos sucesso financeiro, de crítica e público,
para esses filmes em visível desvantagem. Uma situação
comercial, provocada pela indústria cinematográfica, vai ser
refletida no mercado, muito provavelmente.
Seabiscuit – Alma de Herói
Indicado para melhor filme, fotografia , edição e roteiro
adaptado, “ Seabiscuit – Alma de Herói “, apesar de todas as
suas qualidades de forma e conteúdo, perdeu o Oscar nessas
categorias não somente para “ O Senhor dos Anéis – O Retorno do
Rei “. A fotografia de “ Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante
do mundo”, de Peter Weir, vencedora igualmente na categoria
edição de som, foi premiada.
Na década de 30, o povo americano sofre com a queda da Bolsa e,
em plena depressão econômica, o fantasma do desemprego se
materializa e multiplica, provocando tragédias nas famílias,
como a separação de seus membros, que se vêem obrigados a
buscar, em outras cidades, a sobrevivência. Desde o início, “
Seabiscuit – Alma de Herói “ ( Seabiscuit- EUA, 2003 – de Gary
Ross – 140 min.) nos comove pelo impacto da situação na vida de
pessoas comuns, com enredo inserido na história americana,
narrado com realismo e sensibilidade.
Inspirado em fatos e acontecimentos, essa história real tem
personagens muito bem interpretados por seu elenco,
destacando-se o trabalho eficiente de Tobey Maguire, Jeff
Bridges e Chris Cooper. O filme mostra as vitórias de um cavalo
especial... e a sua importância na vida de três pessoas, que
enfrentaram inúmeros obstáculos, numa batalha diária de
superação e aperfeiçoamento.
Outros destaques: produção, direção, fotografia, trilha sonora,
montagem, reprodução de época, direção de arte, figurinos,
maquiagem, locações externas.
“Seabiscuit - Alma de herói“ oferece ao público um drama
emocionante em clima de aventura, ação espetacular e suspense;
e, apesar de algumas cenas de violência (daí o filme ter a
recomendação de faixa etária para 14 anos), deixa recordações
sobre o amor e a amizade como sentimentos capazes de vencer
todas as adversidades.
Theresa Catharina de Góes Campos
|